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simpático? Claro, à primeira vista, mesmo à segunda. Mas um canalha, como
vimos, também pode ser polido, fiel, prudente, temperante, corajoso& E por
que não generoso, às vezes, e justo, ocasionalmente? Todavia isso diferencia,
entre as virtudes completas, como diria Aristóteles, as que bastam para atestar o
valor de um ser, como a justiça e a generosidade (o canalha só pode ser justo ou
generoso de longe em longe, cessando então, ao menos desse ponto de vista, de
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André Comte-Sponville
ser canalha), e as virtudes parciais, as que, tomadas isoladamente, são compatíveis
com a maioria dos vícios e das ignomínias. Um canalha pode ser fiel e generoso;
mas, se fosse sempre justo e generoso, já não seria um canalha. A hipótese do
canalha simpático, que é mais que uma hipótese, prova somente, pois, que a
simpatia não é uma virtude completa, o que é claro, mas não que ela não é uma
virtude, o que cumpre examinar.
O que é a simpatia? É a participação efetiva dos sentimentos do outro (ter
simpatia é sentir juntos, ou do mesmo modo, ou um pelo outro), assim como o
prazer ou a sedução que dela resultam. Por conseguinte, como bem viu Max
Scheler, a simpatia só vale pelo que valem esses sentimentos, se é que valem
alguma coisa  em todo caso não poderia i
nverter o valor deles.  Partilhar a
alegria que alguém sente diante do mal, (& ) partilhar seu ódio, sua maldade, sua
alegria perversa  tudo isso decerto nada tem de moral. É por isso que a
simpatia não poderia, enquanto tal, ser uma virtude:  A simpatia pura e simples
não tem, como tal, a menor consideração pelo valor e pela qualidade dos
sentimentos dos outros. (& ) Ela é, em todas as suas manifestações, totalmente e
por princípio indiferente ao valor. Simpatizar é sentir com. Que isso pode abrir
para a moral é óbvio, pois já é sair, pelo menos parcialmente, da prisão do eu.
Resta saber com quem se simpatiza. Participar do ódio de outrem é ser odiento.
Participar da crueldade de outrem é ser cruel. Assim, aquele que simpatiza com o
torturador, participando de seu regozijo sádico, sentindo a excitação que ele
sente, também partilha sua culpa ou, pelo menos, sua malignidade. Simpatia no
horror: horrível simpatia!
Logo se compreende que é diferente no caso da compaixão. No entanto, ela é
uma das formas da simpatia: a compaixão é a simpatia na dor ou na tristeza, em
outras palavras, é participar do sentimento do outro. Mas, justamente, se nem
todos os sofrimentos se equivalem, se há inclusive maus sofrimentos (como o
sofrimento do invejoso diante da felicidade do outro), nem por isso deixam de
ser sofrimentos, e todo sofrimento merece compaixão. Há nisso uma assimetria
notável. Todo prazer é um bem, mas nem sempre, longe disso, um bem moral (a
maioria de nossos prazeres são moralmente indiferentes), nem mesmo 
pensemos no prazer de um torturador  um bem moralmente aceitável. A
simpatia no prazer não vale o mesmo que o prazer em questão, ou antes, se ela às
vezes pode valer mais (pode ser louvável participar do prazer, ainda que
moralmente indiferente, de outrem: é o contrário da inveja), é apenas na medida
em que esse prazer não é moralmente pervertido, isto é, dominado pelo ódio ou
pela crueldade. Todo sofrimento, ao contrário, é um mal, e um mal moral, não
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Pequeno Tratado das Grandes Virtudes
decerto por ele sempre ser moralmente condenável (há muitos sofrimentos
inocentes, outros virtuosos ou heróicos), mas por sempre ser moralmente
lastimável. A compaixão é essa lástima, ou antes, essa lástima é a forma mínima
da compaixão.
 Compartilhar a alegria que A sente diante do mal de que B é vítima , indaga
Max Scheler,  é mostrar uma atitude moral? Claro que não. Mas participar do
sofrimento de B, claro que sim!
Será o caso, no entanto, se o sofrimento de B for um sofrimento ruim, por
exemplo se ele sofrer com a felicidade de C? A compaixão responde com a
afirmativa, e é o que a torna tão misericordiosa. Compartilhar o sofrimento do
outro não é aprová-lo nem compartilhar suas razões, boas ou más, para sofrer; é
recusar-se a considerar um sofrimento, qualquer que seja, como um fato
indiferente, e um ser vivo, qualquer que seja, como coisa. É por isso que, em seu
princípio, ela é universal, e tanto mais moral por não se preocupar com a
moralidade de seus objetos  e é aí que ela leva à misericórdia. É sempre a
mesma assimetria entre prazer e sofrimento. Simpatizar com o prazer do
torturador, com sua alegria má, é compartilhar sua culpa. Mas ter compaixão por
seu sofrimento ou por sua loucura, por tanto ódio nele, tanta tristeza, tanta
miséria, é ser inocente do mal que o corrói, e recusar-se, pelo menos, a somar
ódio ao ódio. Compaixão de Cristo por seus carrascos; de Buda pelos maus.
Esses exemplos nos esmagam? Por sua elevação, sem dúvida, mas é assim que a
percebemos. A compaixão é o contrário da crueldade, que se regozija com o
sofrimento do outro, e do egoísmo, que não se preocupa com ele. Tão
certamente quanto esses são dois defeitos, a compaixão é uma qualidade. Uma
virtude? O Oriente (em especial o Oriente budista) responde que sim, e a maior
de todas, talvez. Quanto ao Ocidente, é mais matizado, e é isso que precisamos
examinar brevemente.
Dos estóicos a Hannah Arendt (passando por Spinoza e por Nietzsche), seria
infindável evocar os críticos da compaixão ou, para utilizarmos a palavra
geralmente empregada por seus detratores, da piedade. Críticas de boa-fé, quase
sempre, e com freqüência legítimas. A piedade é uma tristeza que sentimos diante
da tristeza do outro, o que não salva esta, que continua, nem justifica aquela, que
se acrescenta a esta. A piedade apenas aumenta a quantidade de sofrimento no
mundo, e é isso que a condena. Para que acumular tristeza sobre tristeza,
infelicidade sobre infelicidade? O sábio não tem piedade, diziam os estóicos, pois
não tem pesar. Não, é claro, que não queira socorrer o próximo; mas para isso
não necessita de piedade:  Em vez de lamentar as pessoas, por que não as
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André Comte-Sponville
socorrer, se possível? Não podemos ser generosos sem sentir piedade? Não
somos obrigados a tomar sobre nós as penas dos outros; mas, se pudermos,
aliviar os outros de suas penas. Ação, pois, em vez de paixão, e generosa, em
vez de piedosa. Sim, quando a generosidade existe e quando basta. Mas e em
outras circunstâncias?
Spinoza, nesse domínio, está bastante próximo dos estóicos. Cita-se com
freqüência  seja para se regozijar, seja para se ofuscar  sua condenação da
commiseratio:  A piedade, num homem que vive sob a condução da razão, é em si
má e inútil , isso porque o sábio  se esforça, na medida do possível, em não se
deixar tocar por ela. Está dito aí algo de essencial. A piedade é uma tristeza (é
uma tristeza nascida, por imitação ou identificação, daquela de outrem). Ora, a
alegria é que é boa, a razão é que é justa; o amor e a generosidade, não a piedade,
devem levar-nos a ajudar nossos semelhantes, e para tanto bastam. Pelo menos
bastam no sábio, isto é, naquele que, como diz Spinoza,  vive exclusivamente
sob a condução da razão . É por aí, talvez, que se reconhece a sabedoria: essa
pura acolhida do verdadeiro, esse amor sem tristeza, essa leveza, essa
generosidade serena e alegre& Mas quem é sábio? Para todos os outros, e é o
que se esquece com tanta freqüência, isto é, para nós todos (pois ninguém é sábio [ Pobierz caÅ‚ość w formacie PDF ]
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